A Viagem
Nós partimos numa sexta-feira, por volta das oito horas da noite, escoltados pela lua cheia e por meu corvette setenta e oito, negro e reluzente. Era uma daquelas noites limpas e quentes de verão. O sol ainda mostrava seus contornos, escondido além do horizonte, e nuvens avermelhadas escorregavam pelo céu. Estávamos empolgados, os dois, minha filha e eu. Também bastante preocupados. Não sabíamos ao certo o que poderia acontecer depois de tudo aquilo.
Seguimos viagem até o meio da noite e descansamos em uma pequena estalagem à beira do asfalto, então partimos, na manhã seguinte, para mais um dia de viagem. O caminho, a partir dali, tornava-se diferente. O asfalto dava lugar à terra. A estrada de chão que se abriu a nossa frente era estreita, longa e deserta. Durante a maior parte da viagem, atravessamos matagais, fazendas abandonadas e terras esquecidas. Em alguns pontos isolados, deparamo-nos com uma ou outra cidadezinha. Foi em uma delas que paramos para o café. O restaurante de madeira era pequeno, mas bastante aconchegante. Uma garçonete magra nos atendeu e avisou alguma coisa sobre não irmos a oeste. Mas as palavras eram vagas demais, por isso não demos atenção ao aviso. Terminamos nossa refeição e partimos.
Era difícil, depois de todos aqueles anos, manter uma conversa com minha filha. Quando pequena, era fácil entendê-la e agradá-la: bonecas, doces, filmes, circo. Mas ela já era quase uma adolescente, e eu já não conhecia seus gostos ou seus interesses. Passamos quase a noite toda sem trocar uma só palavra, como verdadeiros estranhos, mas estávamos melhorando. Conversamos um pouco durante o café da manhã: coisas banais, como filmes e livros; também coisas sérias, como faculdade. Veterinária, era o que ela queria ser: opção estranha para alguém que passara boa parte da vida em um apartamento apertado no meio de uma cidade grande. Mas paixões não se discutem e, conversando, percebi que ela adorava os animaizinhos quase tanto quanto eu adorava carros. Ela me confessou: sonhava em morar no campo para criar cavalos e cães. Quanto a mim, a cidade sempre fora minha selva, e eu não seria capaz de me imaginar vivendo em qualquer outro lugar. Só conseguia me sentir livre no meio de todo aquele caos e de todo aquele barulho. Como pai e filha, éramos certamente bastante diferentes, mas ainda tínhamos o mesmo sangue, e isso era o mais importante.
Terminamos o café e partimos. Continuamos nosso caminho a oeste e, no meio da manhã, parecíamos realmente distantes de qualquer sinal de vida. Minha filha observava, pela janela do automóvel, a paisagem daquele lugar deserto. A vista era de encher os olhos: lagos, pastagens, campos. Rebanhos esporádicos em uma ou outra propriedade. Joseline parecia fascinada. Mas algo a entristecia.
—Queria que ela estivesse aqui.
—Sua mãe? —eu perguntei.
—Sim. Ela ia adorar esse lugar.
—Eu também queria que ela estivesse aqui. Mas não é possível. Não depois de tudo o que eu fiz a ela. Você sabe disso.
—É, eu sei.
Houve um momento de silêncio. Seguimos por alguns quilômetros naquela estrada deserta: atravessamos milharais amarelados, alguns banhados e passamos sobre uma pequena ponte de madeira.
—Ela está procurando por mim. —Joseline comentou, erguendo o celular. —Mamãe... Falou com todos os meus amigos, deixou mensagens em todos os meus grupos. Eu deveria estar naquele acampamento idiota. Ela já descobriu que eu não cheguei lá. Está preocupada. Será que eu realmente não posso deixar uma mensagem, dizer que estou bem?
—Eu sinto muito querida, mas ela vai saber que você está comigo. A polícia vai procurar por mim, estampar minha foto nos televisores. Nós não teríamos mais nenhum tempo.
Joseline suspirou, bastante preocupada.
—São apenas alguns dias. —eu completei. —Quando chegarmos à cidade, você envia uma mensagem. Sua mãe não vai ficar preocupada por muito tempo.
—É, eu sei. Mas e depois? O que acontecerá com a gente? O que farão com você?
—Com sorte, não vão descobrir. —afirmei, tentando tranquilizá-la, mas nem eu acreditava naquilo. —Vamos cuidar de um problema de cada vez, tudo bem?
—Certo.
Seguimos viagem durante todo o dia, com duas paradas para o almoço e o lanche da tarde, mas ainda tínhamos alguns punhados de milhas para trilhar antes do anoitecer. Meu velho carro parecia um míssil na solidão daquela estrada deserta, deixava um rastro de poeira por onde passava. Pena não haver qualquer pessoa por ali que pudesse testemunhar toda aquela velocidade ou ouvir o ronco grave e potente do motor.
Eu suspirei. Havia paz ali, tão longe de tudo. O vento morno em nossos rostos era reconfortante. Joseline sorriu quando passamos por uma família de patos. Seu rosto se iluminou. Os bichinhos caminhavam distraídos pela beira da estrada. Eu reduzi a velocidade para que ela pudesse vê-los melhor, quase parei o carro. Era uma imagem bonita, como a capa de um daqueles livros coloridos para crianças. Não devia ser uma cena incomum naquelas bandas, mas mesmo assim tomei aquilo como um sinal, um presságio de que tudo acabaria bem. Como estava enganado!
Eu voltei a acelerar o carro. Joseline acompanhou os bichinhos com os olhos até eles desaparecerem na mata, olhou para mim e sorriu. Minha filha era realmente muito diferente de mim, uma criatura delicada e cheia de vida. Qualquer policial que me visse ao lado dela me tomaria como um possível sequestrador, já que a forma como me visto nunca foi das mais populares entre as autoridades. Sempre gostei de roupas largas, jeans, jaquetas de couro e gel, e meu guarda-roupa sempre se resumiu basicamente a isso. Além de tudo, meu rosto surrado nunca foi muito atrativo. Já minha filha herdou toda a beleza da mãe, toda a sua delicadeza. O contraste era inevitável.
O dia chegava ao fim. Seguimos viagem por mais algumas horas, até nos depararmos com uma pequena pousada contígua a um posto de combustível. O dono do lugar era um homem estranho, malcuidado, sem muitos modos e visivelmente solitário. Era o único habitante em milhas e parecia não ver ninguém há semanas, talvez meses. Antes de nos entregar a chave do quarto, ele ainda perguntou, desconfiado, onde estávamos indo, e pareceu assustado com a resposta. Mais do que isso, parecia querer dizer algo, mas se conteve e apenas ficou ali, atrás do balcão, com a expressão sombria e abobalhada de um daqueles gnomos de jardim. Sujeito estúpido, eu pensei.
Nós dormimos cedo naquela noite. Não havia realmente muito que fazer naquele lugar perdido no meio do nada. Na manhã seguinte, acordamos bastante dispostos e partimos, em pleno amanhecer, para mais um dia de viagem. Seguíamos ainda para oeste. O trajeto se tornou tão deserto que até os campos e as pastagens desapareceram: tudo o que havia agora eram enormes matagais abandonados. Fizemos um lanche à beira da estrada e não paramos mais em lugar algum, até porque não havia realmente onde parar. No meio da tarde, tive de usar o galão de combustível de emergência que havia trazido para a viagem, já que não encontrei nenhum sinal de civilização. Fizemos mais um lanche rápido e partimos novamente. Pelos meus cálculos, a cidade estava próxima, mas o mapa que havia trazido para a viagem era inútil. Por alguma razão difícil de entender, aquela cidade não aparecia em lugar algum, nem no mapa, nem no GPS. Eu não podia deixar de achar aquilo tudo muito estranho, mas a euforia e a preocupação não me deixavam refletir direito. Eu devia ter voltado para casa, pensado na segurança de minha filha, mas fui um idiota descuidado e só conseguia me preocupar em não ser apanhado. Em minha defesa, não havia como prever o que estava prestes a acontecer, apesar da sensação desagradável que percorria meu corpo de momento em momento.
Seguimos viagem... Aquele dia havia passado muito rápido. Apesar disso, parecia muito mais denso e pesado que o dia anterior, por alguma razão difícil de descrever. Durante todo o trajeto, da manhã até o fim da tarde, o sol nos seguia, até que nos alcançou e vagarosamente nos ultrapassou. Naquele momento, lembrávamos dois velocistas determinados em uma disputa acirrada, o carro e o sol. E lá estava ele, invencível, a nossa frente, quase tocando o horizonte, antecipando as sombras da noite. Mais um dia chegava ao fim.
—Estranho. —afirmou Joseline. —observando, com desconfiança, a tela do celular.
—O quê? —perguntei.
—Sem sinal. Nada.
—É um lugar bastante isolado.
—Tenho certeza que passamos por uma torre lá atrás. Estava em cima de um morro. Não deveríamos estar sem sinal.
—Sei que é chato. —respondi. —Mas não esqueça que são só alguns dias.
—Eu sei. Não é isso. É só que...
—O quê?
—É estranho. Só isso. Deixa pra lá...
Eu queria alegrar minha filha. Aproveitei que a estrada se alargou um pouco e acelerei o máximo que pude, como um menino de quatro anos exibindo seu brinquedo novo aos amiguinhos.
—Veja isso! —eu disse, e pisei fundo.
O carro acelerou ainda mais. Escalamos um morro muito íngreme, quase uma colina, e descemos como que em uma montanha-russa. Minha filha soltou uma exclamação. Eu sorri.
Guinamos à esquerda, atravessamos uma trilha estreita e entramos em uma rodovia fantasmagoricamente deserta. Era uma rodovia muito bem pavimentada, ampla, ainda assim não nos deparamos com um único veículo em mais de vinte quilômetros. Mas estranho que isso, aquela estrada larga de asfalto aparentemente não levava a lugar algum.
Ao fim de uma curva acentuada, mergulhamos em uma reta que parecia interminável. Aproveitei para forçar um pouco meu velho carro. O ponteiro do velocímetro colou no lado direito e permaneceu ali por um bom tempo. Joseline abriu todo o vidro da janela para sentir o vento. Parecia um tufão. Quando enfim chegamos ao final daquela rodovia, a placa em uma rotatória indicava o caminho a seguir, por sinal o único caminho, e mergulhamos mais uma vez em uma daquelas intermináveis estradas de terra.
A nova estrada era bastante estreita e cortava uma floresta densa e silenciosa. De tão apertada, não haveria espaço para dois carros se alguém aparecesse do outro lado. Precisei reduzir a velocidade quase a ponto de parar. As árvores ali eram altas de se perder de vista, velhas e incrivelmente disformes. Em determinados momentos, eu tinha a sensação de que elas seriam capazes de falar se lhes déssemos a chance. O matagal também era de apavorar: arbustos densos, espinhosos, cobertos de trepadeiras e de um musgo verde espesso. E o lugar era silencioso demais. Nós não ouvíamos o som de um único animal, nem de um mísero inseto.
Foi naquele momento que escalamos um último morro. Aquele era muito alto, quase interminável. Quando chegamos ao topo, a surpresa: a duzentos quilômetros de nada, e mais perto do sol do que qualquer outro lugar sobre a face da terra, lá estava ela: a Cidade Perdida, com seus poucos prédios de tijolos envernizados e suas pequeninas casas de madeira e alvenaria em estilo alemão. A distância, o lugar era muito bonito, nostálgico, quase mágico, como se alguma lembrança perdida invadisse minha mente. A cidade inteira fora construída sobre um grande vale verde que, banhado pela claridade de fim de tarde, parecia dourado. Simplesmente uma explosão de raios e luzes. Aspirei o ar fresco e úmido e suspirei satisfeito.
A CHEGADA
—Acho que deveríamos voltar, pai. —disse Joseline, ao meu lado.
—Por quê? —perguntei.
Minha filha não respondeu. Se aquilo era um pressentimento genuíno ou apenas uma sensação desagradável graças ao aspecto rude do vale, que lembrava um pouco uma grande cratera de meteoro, eu jamais saberei. Mas Joseline parecia realmente assustada. Por um momento, pensei que ela encarava meu rosto. Quando a observei mais atentamente, percebi que na verdade era algo do lado de fora que atraía sua atenção. Desviei meus olhos da estrada e os pousei sobre a floresta, mas não percebi nada que pudesse assustá-la daquele jeito.
Repentinamente, o ar se tornou bastante carregado, até mesmo elétrico. A temperatura desabou a tal ponto que, em menos de vinte segundos, tremíamos de frio. Mas não era apenas isso: uma sensação estranha de desconforto se apossou de meu corpo, como se a cidade toda nos mandasse um aviso. Tentei retornar, mas não havia naquela estrada estreita espaço o suficiente para uma manobra de meia volta, por isso continuei rumo ao vale, arrastando o automóvel comprido pela estrada pegajosa.
As árvores, agora, pareciam cantar ao som de meia dúzia de animais, todos completamente desconhecidos para mim, todos perigosos. A floresta se tornou ainda mais densa. Tão densa que uma névoa espessa como leite se ergueu sobre as árvores. O pôr do sol chegava ao seu auge, e as imagens se desmanchavam em sombras amareladas e borrões avermelhados, como se estivéssemos cravados em alguma fotografia antiga.
—Pai... O que é aquilo? —perguntou Joseline, apontando para a floresta.
Eu analisei novamente a mata. As árvores nos observavam com atenção. A brisa fria fazia as folhas balançarem vagarosamente. Parecia um filme em câmera lenta. Por um momento, tive a nítida impressão de que olhos flamejantes espreitavam no fundo da floresta. Vários pares deles. Deviam ser apenas vaga-lumes, tentei me convencer: vaga-lumes estranhos, é verdade, mas, ainda assim, vaga-lumes. Afinal, o que mais poderia ser? A paisagem não parava de se dissolver. Mesmo com o brilho dos faróis, o caminho se desmanchou em sombras. Foi quando algo muito pesado acertou o carro.
Meu corpo foi esmagado. Houve muita dor. As rodas do carro cravaram no lodo e não se moveram mais. As sombras, já tão poderosas, envolveram meus olhos e todos os meus sentidos por um momento. Eu apaguei.
Depois daquilo, todo o resto aconteceu muito rápido. Eu podia sentir o perigo pairando no escuro, uma angústia crescente, que logo se converteu em puro desespero. Em meus delírios, ouvi uma voz grave que soava carregada do sotaque arrastado de alguma língua estrangeira, mas não consegui identificar suas palavras exatas. Então aquela voz se aproximou de mim e trocou frases confusas com alguém muito próximo. O homem se afastou, e outra voz surgiu ao lado dele. Era uma voz de criança. Era a voz de minha filha. Eles continuaram conversando enquanto se afastavam.
—Venha comigo, e seu pai ficará bem! —mentiu o sujeito estranho.
E foi tudo o que consegui entender. Eles me abandonaram, mas algo me encontrou. Ouvi vozes, muitas delas, dessa vez ao meu redor, cercando o carro, espreitando além das árvores da floresta, esperando o desaparecimento dos últimos raios de sol. Mas eram vozes diferentes, inumanas, estranhas, estrondos e chiados vindos de todas as direções. Algo agitava o matagal e se movia por entre as árvores. Algo muito rápido e muito grande. E mais um! E outro! Muitos deles! A voz de Joseline surgiu uma última vez, mas já estava longe demais para que eu pudesse compreendê-la. Então eu despertei.
A luz do dia agonizava. A névoa azulada já invadia a estrada. O sol não passava de uma lembrança. Eu havia apagado apenas por alguns minutos, talvez alguns segundos, mas tudo parecia diferente. Só para ajudar, eu ainda estava zonzo demais e não conseguia me concentrar em nada.
Algo esmagava o capo do carro. O motor fervia ferozmente. Ouvi gotas batendo contra o chão pegajoso. Mesmo em minha semiconsciência, talvez por causa do odor forte, eu sabia que se tratava de gasolina. O carro estava prestes a se incendiar. Eu precisava sair dali muito rápido.
Tentei erguer meu corpo, mas não consegui. Estava preso, pensei a princípio, mas logo depois percebi que estava apenas dormente. Levantei-me na terceira tentativa, com muita dificuldade, e parti cambaleante. O que esmagava o motor do carro era o tronco de uma árvore espinhosa muito grande. Eu precisava atravessá-lo para alcançar minha filha. Esgueirei-me sob a coisa monstruosa com muita dificuldade e a atravessei. A lataria do carro estalava constantemente com o peso do tronco e foi completamente esmagada por ele um segundo depois. Os pneus explodiram, e o metal se contorceu em um estrondo poderoso. Por muito pouco, não fui partido ao meio. Quase inconscientemente, tentei calcular a probabilidade de um tronco daquele tamanho desabar acidentalmente sobre um veículo em movimento e percebi que era muito pequena. Isso, por si só, já era muito estranho.
A cidade se achava a apenas alguns poucos quilômetros de distância. O sol desaparecia sobre o vale. Os prédios e as poucas casas perdiam seus contornos. A paisagem se apagava definitivamente. Na estrada, a alguns metros de distância, enxerguei o vulto de minha filha. Distingui com dificuldade o contorno de seu corpo e de suas roupas, mas seu rosto havia desaparecido na escuridão. Havia alguém a seu lado. Era um homem muito alto enfiado em uma veste negra comprida. Usava um estranho chapéu arredondado. Mas era realmente tão alto e seus dedos eram tão compridos e finos que eu me questionei, em um primeiro momento, se não seria na realidade uma árvore. Em meu devaneio, acabei esquecendo que árvores não sabem caminhar. Mas lá estava aquela coisa gigantesca, ao lado de minha filha. Perto dele, Joseline mais parecia um bebê de colo.
Os dois seguiram de mãos dadas. Não estavam longe de mim, apenas uns cinquenta ou sessenta metros, mas no estado em que eu me encontrava era impossível segui-los. O sujeito caminhava lentamente. Na verdade, parecia mais deslizar, ou mesmo flutuar, quase como se não tivesse pés. Joseline parecia relutante, mas o acompanhava sem questionar e olhou para trás apenas uma única vez. Mas não era para mim que ela olhava, tampouco poderia me ver naquela escuridão doentia. Foram, certamente, os incontáveis olhos vermelhos brilhando nas sombras da floresta que chamaram sua atenção.
Eu tentei correr, mas não consegui dar um único passo e desabei. Minha cabeça ainda girava. A tontura ficou mais forte. Por um momento, tentei me convencer novamente de que os olhos que brilhavam como brasa nas sombras da floresta não passavam de vaga-lumes. Nessa crença reconfortante, desabei completamente sem forças. Vaga-lumes... Muitos vaga-lumes! Só que aqueles faziam um som diferente, como o ruído de grilos gigantescos, do tamanho de leões. Eu fechei meus olhos. Estava prestes a desmaiar. Foi então que lembrei: “vaga-lumes são verdes”.
Um alarme ecoou em minha mente entorpecida: “vaga-lumes não são vermelhos!... Vaga-lumes são verdes!”. Ergui-me num salto, mas minhas pernas não sustentaram o peso de meu próprio corpo e voltei a desabar. Eu os ouvia ao meu redor. Muitos deles. Mas a quantidade exata era um mistério. Com muita dificuldade, consegui me levantar. Tentei correr, mas tudo o que consegui foi uma marcha desesperada, lenta demais para trazer à tona qualquer esperança.
Os estalos na lataria do automóvel se tornaram mais intensos. O carro gemeu, bufou e explodiu. Uma labareda de fogo se acendeu na escuridão. A luz opaca do crepúsculo se transformou em um grande clarão avermelhado, que reinou poderoso por alguns segundos e então se extinguiu como se nunca tivesse existido. Eu olhei para trás instintivamente. Seria melhor se não tivesse olhado. O que vi no escuro, onde antes só existiam sobras e olhos vermelhos, foi uma legião de sabe Deus o quê, um exército incontável de espectros assustadores sem qualquer vestígio de humanidade. Centenas deles. Então as chamas se extinguiram, e só os ruídos continuaram.
Cambaleei, tentado alcançar minha filha, mas já não podia vê-la. O que vi, contra a claridade de um sol agonizante, foi a sombra de um casarão, no exato trajeto entre a estrada e o vale. Aliás, estava muito mais próximo de mim do que perecia à primeira vista, bem abaixo de um grande morro verde, logo ao lado da estrada. Bastava desviar meu caminho e entrar em uma pequena trilha paralela.
—Socorro! —eu gritei.
Tentei correr em busca de ajuda, mas acabei rolando morro abaixo. Rolei violentamente, em uma velocidade absurda, e já não sentia meu próprio corpo. Quando parei de rolar, estava perdido. Já não sabia para que lado correr. Então a porta do casarão se abriu, e algo como a chama de um lampião ou vela brilhou na escuridão. Eu estava muito perto da ajuda, mais perto do que seria capaz de imaginar segundos antes. Faltavam uns quarenta, talvez cinquenta metros até o socorro, mas as coisas na floresta já deslizavam por entre as árvores da encosta.
—Socorro! —gritei novamente. —Socorro! –repeti, e percebi mais força em minha voz do que esperava ouvir. Corri na direção da chama. Pela primeira vez até então, estava correndo de verdade, e o ar queimava dolorosamente em meu peito. Não poderia suportar aquilo por muito tempo.
Então, inexplicavelmente, um bando de olhos brilhantes surgiu das sombras da casa e disparou em minha direção. Eu congelei. Estava cercado: de um lado, olhos vermelhos espreitavam na escuridão da floresta; do outro, olhos brancos deslizavam sobre o gramado. Eu ouvi grunhidos rasgados e graves e algo como latidos baixos mas incrivelmente poderosos. Eram cães! Se bem que, de tão organizados e rápidos, mais lembravam uma revoada de andorinhas. Corriam em minha direção e pareciam extremamente irritados. Estavam muito próximos e eram muitos, dezenas deles.
Nada no mundo me faria enfrentar aquele bando de cães, ainda mais no estado em que me encontrava. Eu recuei e marchei novamente de encontro à floresta, mas minhas pernas não acompanharam a velocidade de meu desespero e desabaram sobre o próprio peso. Cobri minha cabeça com os braços e me protegi, encolhendo meu corpo como um caracol.
Os cães me alcançaram e passaram por mim como se eu não existisse. Pararam diante do morro, bem em frente às árvores e latiam ferozmente para o que estava ali. As coisas na escuridão responderam com um silêncio fantasmagórico. Então eu ouvi algo como uma explosão. Era um tiro. E mais um! E outro! A voz de um homem adulto, e outra que parecia pertencer a um adolescente. Mais uma voz, dessa vez de uma mulher. Dois homens muito jovens correram em minha direção e me ergueram sem muita dificuldade. Eram colonos, pude perceber pela força de seus músculos, e estavam armados com espingardas de caça e metralhadoras que me pareceram ilegais. Um deles gritou em meu ouvido:
—Precisamos que nos ajude! Corra!
As palavras me devolveram alguma energia, e eu pude me mover com um resquício de esperança. Um velho muito forte trajando roupas gastas e uma jaqueta camuflada do exército e uma garota de uns dezenove anos estavam parados na entrada da casa. O primeiro estrondo que eu ouvira era o som de um Winchester prateado. O velho atirava como um profissional. Mataria um pernilongo pousado em um galho escuro a trezentos metros de distância, eu tive certeza. A garota disparou uma rajada de fuzil e precisou de muita força para se manter de pé. Mas era uma mulher realmente forte, eu pude perceber. Todos eram.
—Rápido! —gritou o velho, enquanto passávamos por ele. —Rápido!
Os garotos me lançaram, literalmente, para o interior da casa e atiraram ferozmente contra as árvores. Uma nuvem de folhas e poeira se ergueu na mata. O velho chamou os cães. Os animais recuaram em um movimento único e coordenado, rápidos como um bando de pássaros. Percorriam metros como se fossem centímetros. Passaram pela porta em segundos e se espalharam por todos os cômodos como verdadeiros soldados. Pareciam saber o que faziam. O velho entrou, acompanhado pela moça. Os dois garotos surgiram em seguida.
A porta estreita de madeira se fechou diante dos meus olhos, e outra porta, toda de aço reforçado, surgiu atrás da primeira. Chapas muito grossas reforçavam cada uma das tábuas de madeira da casa, assim como as janelas e as portas. Era como se outra casa, mais parecida com uma gaiola, protegesse a primeira, que naquele ponto já não passava de uma lembrança. Algo realmente muito estranho estava acontecendo ali há algum tempo. Percebi que todos os pilares de ferro daquela jaula gigante estavam cravados no solo, a que profundidade eu não pude afirmar com certeza, mas após uma observação mais detalhada não tive dúvidas de que a estrutura de aço não dependia de forma alguma do casarão para sustentá-la. Era uma estrutura independente e muito mais resistente que a construção de madeira que protegia.
Ouvi uma rajada grave e muito alta. Daquela vez, uma metralhadora antiaérea cravando projéteis pontiagudos em fosse lá o que fosse. As duas mulheres estavam a postos nas janelas do que fora uma sala de estar e atiravam, através de espaços estratégicos entre as chapas de aço, em algo do lado de fora. Outra mulher, bem mais velha mas igualmente bonita, permanecia junto à porta. Era a esposa certamente. A mobília que deveria decorar a sala estava espalhada de forma aleatória pelo cômodo, como se um tornado tivesse acabado de passar por ali.
Os cães se moviam alucinadamente por todos os lados. Alguns eram negros, outros malhados; alguns tinham focinhos achatados, outros exibiam bocas proeminentes e dentes compridos e afiados. A única coisa em comum entre eles era o tamanho. Eram enormes. Um deles se aproximou de mim e me observou mal-humorado. Mas eu não o incomodava. O que o assustava era o que estava do lado de fora.
—O sol está morrendo! —afirmou o velho, depois de observar o lado de fora por uma fresta. —Mais alguns segundos!
Passos inacreditavelmente velozes cercaram a casa. Pareciam pesados e carregados, como o rastejar de lagartos gigantes. Vozes que lembravam sussurros humanos mas que em alguns momentos soavam como a algazarra de um bando de insetos ecoavam do lado de fora. Arrastei meu corpo até a parede que separava dois cômodos e me recostei. Sentado, sentia-me mais protegido.
Se os cães não se incomodavam com a minha presença, o mesmo se podia dizer dos donos. Eram pessoas estranhas. Vestiam-se como colonos, mas falavam, agiam e atiravam como soldados enfurecidos. As mulheres eram lindas e malcuidadas; os homens, apenas malcuidados. Todos eram broncos e grossos. Todos eles me pareceram amedrontados, mas, mesmo assim, concentrados.
As coisas do lado de fora se silenciaram por alguns segundos. O velho ajeitou a barba branca e me observou pela primeira vez até então.
—Tenha paciência! Isso vai durar um bom tempo. —disse ele, e parecia saber o que dizia.
—Tenham calma e atirem apenas para acertar! —grunhiu, em seguida, aos demais. —Esperem!... Ainda não!... Ainda não!... Agora!...
Tiros! Tiros! Tiros! Uma pancada que envergou uma viga de aço, fazendo o velho praguejar. Algo que se parecia com uma granada e que explodiu como uma granada, fazendo algo do lado de fora gritar de dor e, então, contrariando toda a lógica, gargalhar com uma hiena, embora outro ruído, como o zumbido de um inseto gigante, ecoasse ao mesmo tempo.
—Quem está lá fora? —perguntei eu, antes de apagar.
—Acho que não é quem. —respondeu o velho. —E sim o quê.
—Eles estão se aproximando novamente! —berrou um dos garotos, e pude perceber, por sua voz esganiçada, que ele não tinha mais que dezesseis anos. E era certamente o mais velho dos dois rapazes.
Uma das meninas foi jogada de costas contra o assoalho quando algo muito forte espancou a parede a ponto de fazê-la tremer. As taboas de madeira, além das grades de aço, se partiram, mas o metal aguentou com valentia. Os cães se mostraram ainda mais violentos.
—Eles nunca chegaram tão perto. —afirmou a mais velha das duas irmãs, que não tinha mais que dezenove anos.
—Cuidado! —gritou a mãe.
E outra pancada muito forte golpeou a casa. Até os alicerces pareceram tremer daquela vez. Senti vontade de ajudá-los, mas já não podia me mover. Meus olhos se fecharam novamente, e tudo então se resumiu a sons.
Despertei uma ou duas vezes durante a noite. Sempre que abria meus olhos, via a mesma cena: o tiroteio interminável, os cães alvoroçados e as coisas do lado de fora esmigalhando as paredes de madeira. A casa estava a ponto de desabar. Apaguei novamente, agora de forma mais profunda, quase um flutuar no vazio.
Quando abri novamente os olhos, percebi que a claridade da manhã surgia além das tábuas destruídas. Ergui meu corpo ainda com muita dificuldade, mas já me achava muito melhor. Puxei uma cadeira e me acomodei. Uma das garotas me estendeu, sem muita educação, uma caneca de café.
—Beba isto!
—Obrigado!
A porta da sala se abriu, e o velho surgiu da rua, acompanhado pela esposa.
—Eles já foram. —afirmou ele. —Mas voltarão amanhã.
—Você está bem? —perguntou a mais velha das irmãs, assim que surgiu do que, eu julguei, deveria ser a cozinha.
—Estou sim.
—Você se recupera bem rápido. —disse um dos garotos. —Foi uma pancada bem forte aí na sua testa.
—Estou acostumado a levar surras. Eu sempre me levanto.
—Como veio parar aqui? —perguntou o velho.
—Eu estava a caminho da cidade com minha filha, e uma árvore caiu na estrada.
—Uma árvore? —perguntou a mulher.
—Sim. Uma das grandes.
—Eles não pensariam em algo assim, pensariam? —perguntou a mais velha das filhas, encarando os olhos do pai. —Não são tão espertos.
—Não sei. —respondeu o velho. —Talvez tenha sido apenas um acidente.
O homem não parecia convencido.
—Onde está sua filha? —perguntou a mulher.
—Eu não tenho certeza. Acho que alguém a levou... De onde vieram aquelas coisas?
—Da cidade. —respondeu um dos garotos.
O velho caminhou até a varanda. Eu o segui. Não queria falar na presença dos filhos e da esposa, eu pude perceber.
—O que está acontecendo aqui? —perguntei.
—Há uns dez anos, um médico muito importante chegou à cidade. Trouxe com ele muitas coisas boas: progresso, dinheiro, emprego. Também muita desgraça. Pessoas começaram a desaparecer sem deixar rastros, principalmente moradores de rua e andarilhos. Os moradores da cidade se recusavam a acreditar que algo ruim estivesse acontecendo. Ou talvez tenham resolvido apenas ignorar. Mas, à noite, quando tudo se calava, alguns diziam conseguir ouvir os gritos. Brotavam do chão, vinham de algum lugar no subsolo. O médico e seus companheiros estavam ferindo pessoas em algum lugar debaixo da cidade, ou algo pior. Aquele médico... O que aconteceu na cidade, o que aconteceu com aquelas pessoas, tem a ver com ele, tenho certeza. É só o que sei. As coisas que nos atacaram são obra dele.
—Esse médico, como ele era? —perguntei, ao lembrar do homem que levara minha filha.
—Eu nunca o vi, na verdade, mas diziam que ele era um homem estranho: muito alto, muito magro, media quase três metros e tinha braços e pernas finos como gravetos.
—Quase três metros?
Calei-me por um momento, tentando digerir as informações e então perguntei:
—Não entendo... O que ainda estão fazendo aqui?
O velho me observou em transe. Era realmente muito alto, já que me encarava face a face sem precisar levantar a cabeça. Tinha quase a minha altura e uma aparência que fazia lembrar um velho soldado aposentado que se refugiara na segurança do campo para escapar de antigas lembranças.
—Digamos que eles levaram alguém. —respondeu ele.
Um filho, adivinhei.
—A coisa toda foi muito rápida. Começou num fim de tarde, há uns três anos. A cidade virou um pandemônio: gritos, buzinas e muitos tiros. Havia acabado de escurecer. Nunca tínhamos presenciado nada igual. Nós já estávamos preparados para fugir da cidade, quando as coisas apareceram. Eram rápidas. Deus, como eram rápidas! Nós nos escondemos dentro de casa e agarramos algumas espingardas, mas uma daquelas coisas explodiu a porta e entrou. Robim era nosso caçula, seis anos na época. Ele estava quase ao meu lado quando aquela coisa o pegou. Eu e meus garotos tentamos segui-la, mas fomos surpreendidos por mais delas. Nós criávamos cães, antes de tudo isso. Os animais estavam alvoroçados desde antes do por do sol e se soltaram do canil. Foi a nossa sorte. As coisas fugiram. Foi então que percebemos que elas não gostam de cães. Nossos outros animais morreram, todos eles: gado, porcos, ovelhas. Nós só encontramos pelo e sangue. Na manhã seguinte, pegamos todos os cachorros e fomos até a cidade. Vasculhamos cada palmo daquele lugar, mas não encontramos nada. Apenas muitas e muitas daquelas coisas, adormecidas. Mas ainda eram muito menos do que são agora. Nos meses que se seguiram nós procuramos todos os dias, o dia todo, tudo em vão. As coisas começaram a se espalhar pela cidade e pela floresta, mesmo durante o dia. Então resolvemos reforçar a casa: utilizamos cercas, silos e peças de trator. Tudo o que tínhamos. E desde então estamos esperando. Uma ou duas vezes por semana, voltamos para averiguar novamente a cidade. Já não moramos aqui faz um tempo. Temos outra propriedade, uns trezentos quilômetros a leste, mas não vamos ficar muito tempo por lá também. Fica perto demais da cidade. É perigoso demais.
—E você acha realmente que seu filho pode voltar?
—Não sei. O que sei é que, por alguma razão, aquelas coisas não matam crianças. Elas apenas as carregam, as arrastam como se fossem troféus.
Eu suspirei aliviado. Havia esperança.
—Você não avisou à polícia, alguma autoridade?
—Avisei várias delas. —respondeu o homem. —Algumas vieram. Policiais, agentes, soldados. Eram bons homens. Nenhum deles saiu da cidade. Nenhum. O governo e as autoridades, ao que parece, não sabem muito bem o que está acontecendo e parecem não se importar muito. Ou talvez estejam com medo. O problema é que...
—São sempre os soldados que morrem. —eu completei.
—Exato. Não posso arriscar mais vidas, sacrificar mais vidas. Não mais. Quanto mais pessoas entram naquela cidade, mais pessoas morrem. Somos só nós agora, e mais ninguém.
Ficamos em silêncio durante algum tempo, então perguntei.
—E essas coisas podem ser mortas?
—Qualquer coisa sobre a face da terra pode ser morta. Mas você presenciou o tiroteio ontem à noite. Está vendo algum corpo sobre o gramado, algum sangue, qualquer coisas que indique algum ferimento?
O homem estava certo: eu podia ver as árvores destroçadas na floresta, as crateras das granadas no chão, mas nada de sangue, nem mesmo uma gota.
—O conselho que posso lhe dar é: fique longe daquelas coisas. Se não houver uma parede de aço entre você e elas, não há nenhuma chance. Mas elas dormem durante o dia, se é que se pode chamar aquilo de sono. Elas parecem quase mortas. Apenas não as incomode se vir alguma, ou elas podem acordar. E, aconteça o que acontecer, não permaneça na cidade à noite! À noite, elas ficaram piores. O pior de tudo, é que aquelas coisas estão se multiplicando, de alguma forma. Cada vez que retornamos à cidade, elas estão mais numerosas, mais perigosas. É quase impossível andar pela cidade sem topar com uma delas. Você precisa ter cuidado.
—Eu não sei como agradecer pelo que fizeram. Vocês arriscaram suas vidas por mim. Se não fosse por mim, vocês não seriam atacados.
O homem suspirou.
—Não, isso iria acontecer, mais cedo ou mais tarde.
—Como assim? —perguntei.
—Desde o primeiro dia, aquelas coisas nunca mais haviam se aproximado da casa. Nunca haviam deixado os arredores da cidade. Mas, há uns dois meses, elas começaram a se espalhar, a avançar cada vez mais. Estão se afastando cada vez mais da cidade, não sei por qual razão. Estão se expandindo. Começou devagar, mas nos últimos dias tudo mudou, tudo ficou muito rápido.
O homem apontou para mata e perguntou:
—A vegetação mais grossa… Consegue diferenciar?
—Sim. —respondi.
Havia, de fato, um ponto no qual a mata se tornava ainda mais densa: surgiam trepadeiras estranhas, que lembravam grandes teias de aranha, e um muco verde pastoso cobria os troncos e os arbustos. Até as árvores pareciam ter crescido mais e de forma mais violenta e retorcida do que parecia possível.
—Não sei como, mas acho que tudo isso está ligado. —afirmou o homem. —O que quer que estivesse enterrado naquela cidade está saindo. E é tão poderoso e tão perverso que está destruindo e amaldiçoando até o solo.
Ele voltou seu olhar para mim e prosseguiu:
—Para nós acabou: vamos partir o quanto antes e não vamos mais voltar. Não posso perder mais ninguém. Não há mais esperança para nosso menino. Não depois de todos esses anos, depois de todas as vezes que o procuramos. Mas para sua filha ainda há esperança. Arranje um carro na cidade. Há vários deles com as chaves ainda na ignição. Vamos resolver o problema do tronco para você poder fugir quando recuperar sua filha, mas é o máximo que podemos fazer.
—É mais que o suficiente. —respondi. —Obrigado por tudo.
Despedi-me daquela família sabendo que nunca mais os veria. O homem ainda me entregou um alforje de munição, um fuzil militar, duas pistolas calibre cinquenta, uma faca grande e afiada de caça e um cantil de água. Eles não precisariam mais de tudo aquilo, de qualquer forma, mas ainda havia armas e munições na casa para iniciar a terceira guerra mundial.
—Mais uma vez, obrigado por tudo! —disse eu. Então parti.