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O Efeito Bumerangue

ou
nunca brinque com um assassino sem nome

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A Sombra

Ele era conhecido simplesmente como “o Dedo”. E, apesar do teor aparente cômico daquele apelido, nada havia de engraçado nele. Aquilo era tudo o que se sabia a seu respeito, a única coisa que se poderia afirmar sobre o assassino de aluguel mais perigoso daquelas redondezas, quem sabe de todo o país. O sujeito tinha um dedo. Provavelmente... Dado que os primeiros assassinatos, ao menos os primeiros assassinatos conhecidos, foram todos executados com o uso de uma arma de fogo, o executor tinha provavelmente ao menos um dedo. Visto que poucos disparos exigiriam uma perícia acima da média, e visto que muitos deles haviam sido desferidos quase à queima roupa, nem mesmo um indicador seria necessário. Um dedo médio já daria conta, quem sabe até mesmo um anelar. Em síntese, era isso: o assassino tinha ao menos um dedo, não necessariamente um indicador. E nada mais.

As armas de fogo, é verdade, foram apenas o começo. Logo após o início de suas atividades, cerca de oito anos antes, o assassino se diversificou. Aquele era um dos segredos de seu negócio, bastante lucrativo, diga-se de passagem. Os corpos se multiplicaram. E as formas de execução também. Dois eram, em resumo, os tipos de contrato: as mortes comuns, execuções de modo geral mais violentas, algumas repletas de sangue, e as mortes limpas, insuspeitas, que passariam perfeitamente por mortes naturais ou acidentais, perfeitas para questões envolvendo heranças ou seguros. Eram de longe as execuções mais caras, mas também as mais perfeitas. Bem como as mais assustadoras.

Um desonesto empreendedor do ramo dos jogos de azar amanhecia morto, talvez um infarto, e a esposa adúltera herdava sua fortuna. A principal testemunha em um caso de corrupção escorregava acidentalmente da plataforma do metrô às seis horas da tarde, em plena hora do rush, enquanto aguardava seu transporte para casa, em meio a uma pequena multidão de insuspeitos cidadãos trabalhadores. Nenhuma testemunha sabia muito bem o que havia acontecido. Nenhuma câmera captara nada de suspeito. Um famoso traficante de drogas, apesar de exímio surfista, era encontrado afogado em uma das praias mais movimentadas da cidade, com sua prancha ao lado, em um fim de tarde ensolarado de águas tranquilas. Enquanto tudo isso acontecia, muito dinheiro circulava pelo mercado negro dos assassinatos por encomenda. Muitos suspeitavam de tudo aquilo, mas ninguém podia provar. A vida prosseguia. E o silencioso assassino sem nome continuava seus negócios.

Havia mortes para todos os gostos. Em certos trabalhos, o profissionalismo frio saltava aos olhos, em execuções cirúrgicas, que mais lembravam verdadeiros jogos de lógica e paciência, mesmo quando tanto esforço não seria necessário, como se o assassino estivesse apenas treinando para encomendas futuras mais complexas. Outros trabalhos, porém, apareciam marcados pela violência gritante e pela quantidade absurda de sangue e membros arrancados, verdadeiras pinturas abstratas nas quais o assassino havia aparentemente abandonado sua pontualidade fria e libertado sua fúria diabólica. Alguns acreditavam que mesmo aqueles crimes eram friamente calculados: o assassino estaria apenas demonstrando que sabia causar dor, e um bocado dela, quando assim o desejava, ou quem sabe estivesse apenas atendendo aos caprichos de algum cliente sádico. Alguns, porém, acreditavam que aquela era a verdadeira face daquele sujeito, sua verdadeira personalidade aflorando em momentos em que ele se permitia certa liberdade. De qualquer forma, qualquer que fosse a realidade, não havia muita consolação em nada daquilo, principalmente para as vítimas.

Em certo ponto dos negócios, sem que isso fosse de fato necessário, já que ninguém havia nem mesmo chegado perto de descobrir sua identidade, o assassino passou a utilizar técnicas curiosas e extremamente criativas para disfarçar seus crimes. Um tiro à queima roupa, cuja vítima era um político progressista extremamente popular e odiado por muitas pessoas, havia deixado para trás uma pistola com uma impressão digital. Ninguém havia cogitado que a autoria do crime seria do assassino sem rosto, tamanho o desleixo. Depois de uma investigação longa e extremamente exaustiva, descobriu-se que o dono da impressão digital era um assaltante que já estava na cadeia há pelo menos doze anos, bem lacrado em um presídio de segurança máxima. O detalhe: o sujeito estava preso há mais de oito anos em uma cadeira de rodas, graças a uma briga de facas no refeitório da prisão. Não havia como aquele indivíduo ter disparado o tiro, não de dentro da cadeia, muito menos em uma cadeira de rodas. Alguém certamente o estava culpando, talvez para encobrir o crime. Seria obra do assassino sem rosto, ou quem sabe apenas uma coincidência infeliz, um erro da equipe de perícia ou algo do tipo? Quando outros casos parecidos começaram a se empilhar, ninguém mais teve dúvida: era o mesmo assassino, operando nas sombras.

Um caso, em especial, chamou a atenção, pois a forma como o encobrimento fora colocado em prática acabou revelada pela polícia. Uma impressão digital e um fio de cabelo encontrados na cena de um assassinato brutal levaram os investigadores até uma viúva de cinquenta e seis anos, que havia morrido de câncer seis meses antes. O processo que conduzira à localização da dona daquele fio de cabelo não fora fácil, e a polícia acabou perdendo muito tempo naquilo. Nada indicava que a mulher tivesse fingido a própria morte. Mas também nada indicava como o assassino real havia conseguido culpar uma pobre viúva morta. A polícia precisou deslacrar o túmulo, que parecia não ter sido profanado de nenhuma forma. Dentro do caixão, os investigadores encontraram sobre o corpo em avançado estado de decomposição uma bela caixa de música, objeto delicado e singular, que a família jurava não estar ali quando o corpo foi enterrado. A mão direita da mulher havia desaparecido.

Então, nesse ponto, não havia mais dúvidas: era ele novamente, o assassino sem rosto. Mas para quê? Ninguém sabia quem ele era. Ninguém conseguia prever seus passos. Por que disfarçar crimes que não precisavam ser disfarçados? Muitas teorias surgiram. Alguns diziam que o sujeito estava sabotando o sistema investigativo, confundindo ainda mais a polícia, de modo que seria necessário desconfiar de cada prova colhida. Outros diziam que era o sistema, como um todo, que o assassino tentava sabotar, para mostrar às autoridades o quanto eram fracas, o quanto eram incompetentes, o quanto ele era superior. Tudo aquilo era possível, mas uma teoria se destacava por fazer muito mais sentido: darwinismo… O sujeito estava evoluindo, como qualquer criatura destinada à sobrevivência, estava se adaptando a um meio perigoso. E talvez não fosse com a polícia que ele estivesse de fato preocupado, mas sim com os outros tubarões no mar, ainda que ele fosse o maior deles. Sim, aquilo fazia muito mais sentido, principalmente quando se descobriu que algumas futuras vítimas já anunciadas, algumas delas bastante poderosas, estavam contratando agências de investigação que fariam os investigadores da polícia corar de vergonha, tudo para localizar aquele assassino sem rosto. Sim, “evolução”, era essa a palavra-chave.

Por fim, a forma como os contratos eram firmados também merece menção. Nada de encontros, nada de ligações. Um envelope contendo o dinheiro do contrato e uma fotografia atual da vítima era enviada para certo endereço postal. Apenas isso. Nenhuma outra descrição era necessária, com exceção do nome da vítima. Como o assassino conseguia executar um crime sem nada que o guiasse era um verdadeiro mistério. Sua única exigência: três dias de prazo nos crimes comuns, cinco dias nos crimes limpos. Tal exigência aliás não era formal, já que nenhum contrato era de fato assinado, mas todos que se dispunham a enviar aquele envelope macabro conheciam muito bem as regras do jogo. No início, poucas pessoas sabiam como contratar os serviços, e o círculo de contatos permanecia restrito quase que exclusivamente a certa clientela, digamos assim, não muito afeita a compartilhar informações. Com o tempo, e o efeito do álcool e das drogas em certos círculos, as histórias se espalharam, e a lista de clientes (alguns deles bastante diferentes daquilo que se poderia esperar naquele ramo de negócios) apenas aumentou.

Meses depois, o assassino sem nome já havia se transformado em uma espécie de celebridade dos becos, o que fez muito bem para os negócios. Mas a fama também tem seu preço, e a polícia logo ficou sabendo sobre todo o esquema. O assassino ganhou uma notoriedade como jamais vista por aquelas bandas, tornou-se quase uma lenda. Pegá-lo seria o sonho de carreira de qualquer policial aspirante a uma promoção rápida, a uma aposentadoria robusta, ou a uma carreira de roteirista de séries de TV. Seria certamente bastante difícil resistir àquela tentação. Dezenas e mais dezenas de crimes não solucionados, centenas de assassinatos nunca descobertos e um assassino perigoso, que ninguém nem mesmo sabia existir, atrás das grades. O autor de tal façanha se transformaria, certamente, em uma verdadeira celebridade. E havia fama o suficiente para ser dividida entre duas dezenas de policiais, talvez mais. Naquele momento, alguns decidiram, era preciso prender aquele assassino sem nome e sem rosto, custasse o que custasse. Contudo, por razões como se verá absolutamente justas, apenas uma tentativa de captura foi colocada em prática pela polícia, que logo desistiu. Apenas uma tentativa, e nenhuma outra, mesmo nos muitos anos que se seguiram. O motivo: uma única tentativa foi o suficiente para desencorajar qualquer aventureiro audacioso.

Eis o que houve: por sorte, ou azar, um policial disfarçado, que investigava uma rede de tráfico de drogas que operava por meio de algumas boates legalizadas, deparou-se certa noite com um ex-presidiário bêbado que confessou ter utilizado o serviço do assassino alguns anos antes. O policial fingiu surpresa, disse não conhecer a história e até fingiu não acreditar, tudo para convencer o bandido a falar. Depois de uma garrafa das boas e alguma dose de falsa simpatia, o policial conseguiu a informação que precisava: o endereço postal para o contato com o assassino. A investigação a respeito da rede de narcóticos foi abandonada no mesmo instante: assassinos eram mais interessantes que drogados pobres e rendiam muito mais reconhecimento. A polícia iniciou os preparativos para a captura quase no mesmo instante. Uma verdadeira megaoperação de disfarce e espionagem como jamais vista naquela cidade até então foi colocada em prática em poucas horas, com direito a uniformes falsos, grampos telefônicos e ao aluguel de três casas populares. Eles estavam preparados para capturar o miserável.

As correspondências para o assassino eram deixadas em uma pequena gaveta postal, em uma agência dos correios perdida no meio do nada. Apenas um recepcionista raquítico e muito velho, que aparentava uns cento e vinte anos ou mais, trabalhava naquele lugar. A agência postal foi vigiada pela polícia por quase duas semanas. Dezenas e mais dezenas de correspondências chegaram, ao longo de muitos dias. Todos esperaram, ansiosos, a chegada do destinatário, e nada. O assassino deveria ter aparecido, mas não havia nem sinal dele. Eles haviam falhado? Estavam no lugar errado? As correspondências para o assassino eram desviadas no meio do caminho? Seria preciso conferir, atestar se aquele era realmente o local correto, sem colocar a operação inteira em risco. Um plano foi traçado: um policial se ofereceria como uma falsa vítima, para não despertar suspeitas, e um envelope com sua fotografia e a quantia adequada em dinheiro seria enviado pela polícia juntamente com um pequeno localizador camuflado, para comprovar que aquele era realmente o destino das correspondências. Tudo precisaria correr da forma mais natural possível, para que o assassino não se sentisse intimidado. Dias depois, a carta chegou. Era realmente o lugar correto. Ainda assim, mais dois dias se passaram sem que o assassino desse as fuças por ali. Os policiais perderam a paciência, invadiram a agência e arrombaram a caixa postal que armazenava as cartas. Nada... Nem uma só correspondência, nem mesmo a carta falsa enviada pela própria polícia. Eles haviam falhado miseravelmente. O sujeito os havia enganado, de algum modo.

A operação inteira foi dissolvida, e foi bastante difícil explicar aos superiores todo aquele gasto. Depois de resolver toda a burocracia envolvida no processo, com a devolução dos imóveis e dos uniformes, a desmontagem dos grampos e o preenchimento de meia dúzia de relatórios, tudo aparentemente havia voltado ao normal. Apenas aparentemente. Três dias depois, o jovem policial que havia oferecido uma fotografia sua para ser colocada no envelope enviado pela polícia foi encontrado morto. Ao que tudo indicava, ele havia caído da escada enquanto trocava uma lâmpada, no lado de fora da pequena casa de campo onde vivia. Pescoço quebrado. Uma morte limpa, exatamente como requerida no falso contrato de execução. Como o assassino havia conseguido tal proeza, se até mesmo o nome fornecido no envelope era falso? Seria coincidência? Por via das dúvidas, todos os envolvidos decidiram: não mexeriam mais com aquele sujeito. Não enquanto não precisassem. E quisesse Deus que jamais precisassem. O assassino não parecia ter se importado com a operação policial. Nem mesmo o endereço da caixa postal foi alterado. Não que fizesse muita diferença. Todos os envolvidos no transporte e na armazenagem da correspondência foram vigiados, o tempo todo, sem que houvesse espaço para qualquer truque. Ninguém sabia como o sujeito havia feito tudo aquilo. E ninguém mais se importava.

 

A história toda havia se desenrolado seis anos antes. Quase nada a respeito daquele negócio sombrio havia mudado desde então. Contratos continuavam sendo selados, assassinatos continuavam ocorrendo, novos corpos continuavam aparecendo. Sem falar nos assassinatos que jamais integrariam as bases de dado da polícia, já que ninguém seria capaz de identificar que qualquer crime havia sido de fato cometido. Mas a cidade, essa sim, havia mudado. Como o resto do país, ela estava mais violenta agora, mais violenta do que jamais havia sido, de modo que aquele punhado de corpos nem arranhavam mais as estatísticas oficiais. Gangues disputavam as ruas, milícias armadas travavam guerras na escuridão dos becos, traficantes faziam do centro da cidade sua bancada de negócios. Ruim para a população, mais amedrontada do que nunca, bom para o assassino sem nome e seu negócio de assassinatos por encomenda. Ele agora podia passar mais despercebido do que nunca e até mesmo caminhar livre pelo meio da noite. Seus negócios prosperavam de forma assustadora. Uma sombra se movia pela cidade mais rica e mais populosa do país. E, por onde ela passava, a morte a seguia.

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O Homem Médio

 

Sim, sua vida não podia ser considerada verdadeiramente normal. Mas era mais próxima da normalidade do que muitos seriam capazes de imaginar: um jardim, uma casa bonita mas bastante simples, vizinhos monótonos, um gato preguiçoso, uma prostituta de lábios úmidos de vez em quando. Um trabalho falso, que ele cumpria durante quatro horas por dia, quando resolvia aparecer. Era uma das vantagens de ser patrão. A farmácia era o velho negócio da família e seu maior disfarce. E havia mais: uma namorada quase falsa, que ele via uma vez por semana, quando não fingia estar trabalhando, ou quando não precisava fingir. Um enteado insuportável de doze anos, a quem ele fingia paparicar o tempo todo. Um depósito de armas em um contêiner enterrado sobre seu gramado. Uma pistola automática e dois pentes carregados escondidos sobre o suéter, fora a arma reserva, na perna. Uma motosserra ótima que ele havia acabado de descartar, mais por necessidade que por escolha. O corpo no porta-malas do carro (não daquele, mas do outro), do qual ele ainda precisava se livrar. Enfim, coisas quase normais. E havia o depósito de quatro dígitos, que ele havia acabado de receber por vias não muito convencionais e ainda precisava descontar. Só Deus sabia o que ele faria se o velho e bom Gregório, funcionário exemplar daquela pequena agência do correio, acabasse partindo por causa da velhice, embora ele às vezes desconfiasse que o sujeito viveria para sempre. O velho era um recepcionista excelente, o melhor que ele poderia encontrar, embora estivesse longe de ser o único. O carteiro também ajudava: era ele quem abria a correspondência e removia o conteúdo para, então, despachá-lo para o segundo endereço. Depois ainda havia o terceiro endereço, e o quarto, e às vezes o quinto, antes da correspondência chegar ao endereço definitivo, que também era falso. Aquele explodiria se alguém tentasse forçar uma entrada. Mas era o velho Gregório quem fazia toda a mágica para sumir com a correspondência, do jeito que eles haviam combinado, anos antes. Aliás, quem seria capaz de imaginar que o velho Gregório havia sido de fato um mágico, durante sua agitada juventude, e um dos melhores? Não havia ninguém como ele, naquele negócio. É verdade que aquela agência dos correios perdida no meio do nada não era seu único endereço para correspondência. Ao contrário do que a polícia acreditava, havia oito caixas postais destinadas aos contratos. Os especialistas naquelas porcarias de computadores que estavam começando a aparecer por todos os lados chamariam aquilo de backup. Apesar das inúmeras alternativas, contudo, o velho recepcionista continuava a ser seu melhor operador e seu grande trunfo. Por isso mesmo, era muito bem pago, muito mais que os outros.

A rede tinha apenas mais um sócio importante: seu contador. Uma farmácia de vinte metros quadrados com três funcionários (um deles, um ladrãozinho talentoso, que ele fingia não perceber) não daria tanto dinheiro nem se ele vendesse ouro. Era preciso apagar qualquer rastro, ainda que o dinheiro declarado fosse só uma fração do negócio todo. Por isso, ele precisava de um bom contador. E havia encontrado o melhor. Quando o conhecera, quase oito anos antes, o sujeito vivia de pequenos trambiques, convertendo pequenos produtos roubados em dinheiro. Fazia aquilo com naturalidade e certa elegância, e poucos poderiam imaginar a fortuna que o sujeito havia acumulado em todos aqueles anos. Vinte anos trabalhando em um escritório de contabilidade por um salário miserável, antes de se aposentar por invalidez, deram ao homem a habilidade técnica necessária para lidar com impostos e números, mas o que era capaz de ocultar bem debaixo dos olhos atentos das autoridades era um dom natural, quase um milagre. Mover e aplicar todo aquele dinheiro da forma certa era trabalhoso. Ele precisava de um bom operador para fazer o trabalho burocrático por ele. Seu contador era o melhor deles. E era um sujeito agradável, com sua baixa estatura, sua barriga saliente e sua aparência de tiozinho aposentado que não levantaria nenhuma suspeita. Ele realmente gostava daquele homem: o sujeito era sério, não afeito a distrações e gostava de levar uma vida simples, como ele. Além disso, era discreto e extremamente pragmático, do tipo que mataria a própria mãe sem pestanejar se fosse necessário, outra qualidade que os dois compartilhavam. O sujeito também era desconfiado. Tão desconfiado que foi difícil convencê-lo a participar do esquema quando o conhecera. Ele não precisou mostrar o rosto, mas precisou fazer uma ligação. Foi uma das poucas vezes vez em que alguém ouviu sua voz naquele ramo, e aquilo certamente jamais se repetiria novamente, mas valeu a pena. A sociedade já durava oito anos, e os negócios prosperavam a cada dia.

E havia os outros parceiros. Muitos outros. Muitos achavam o que ele fazia um verdadeiro mistério. Outros chegavam a cogitar que poderia haver algo de sobrenatural em tudo aquilo, como um daqueles truques de mágica que nos fazem acreditar, ainda que por um breve instante, que o sujeito enfiado na caixa de madeira realmente não é um homem comum. Grande bobagem. Ele era bom com detalhes. Sempre  fora. Eram os detalhes os responsáveis pela prosperidade dos negócios, as centenas e centenas de pequenos contatos, quase imperceptíveis, que ele mantinha com pessoas insuspeitas e que, às vezes mesmo sem saber, contribuíam com os negócios. Um policial bêbedo e um jovem policial recém-casado e endividado forneciam informações sobre as vítimas. E eram apenas dois de seus informantes. Havia outros como eles espalhados por toda a cidade, dentro da polícia, em empresas de segurança, em tribunais, em hospitais e em vários locais onde informações preciosas circulavam. E havia ainda outros, alguns olhos atentos espalhados pela cidade, que lhe rendiam informações importantes, em troca de uma gorjeta quase irrisória. Afinal, que mal haveria em fazer um telefone, para uma secretária eletrônica localizada sabe Deus onde, em troca de uma quantia suficiente para encher a cara por duas noites seguidas, sem preocupação. Aquelas figuras desbotadas eram tão responsáveis por todas aquelas mortes quanto ele, embora não soubessem disso, ou simplesmente não se importassem. Aquela era sua rede, sua força. Como em uma rede, se um barbante se partisse, haveria outros para cumprir a mesma função, e todos se ligavam de alguma forma, sem que nem ao menos se dessem conta disso, como os fios inanimados e inumanos, mas extremamente úteis, de uma daquelas insuspeitas redes de pesca. Farmacêutico? Não, ele era um pescador. A origem do sobrenome alemão de sua família fazia algum sentido, ao que tudo indicava.

 

O dia havia passado. Mais um dia comum, como tantos outros. Ele passou em uma de suas caixas postais, destravou o alarme para que a coisa toda não explodisse e retirou as cartas. Havia um pequeno punhado delas. Por hora, era trabalho suficiente por um dia. Haveria tempo para tudo aquilo no dia seguinte, já que ele havia acabado de executar os últimos trabalhos da última leva. Agora, era preciso retornar para casa, para não levantar suspeitas. Além da pequena farmácia da família, ele havia aberto um supermercado de médio porte. Era mais uma desculpa para passar algumas horas fora de casa. Mesmo assim, era preciso voltar de vez em quando, para disfarçar um pouco e para descansar, embora aquilo estivesse mais difícil nos últimos dias, dado o grande volume de trabalho. O volume era tanto que, cinco anos antes, ele começou a terceirizar inclusive as execuções. Arruaceiros, traficantes e bandidos baratos, na grande maioria, mas também alguns bons profissionais. Alguns deles acabavam levando todo o dinheiro do contrato, mas era um preço baixo a se pagar para manter a rede. Alguns executores, como um ex-soldado altamente treinado, eram ótimos para disparos limpos de longa distância. Outros, como uma meiga senhorinha de meia-idade, que ainda por cima era presbítera em uma dessas igrejinhas pequenas, eram ótimos para se infiltrar em famílias de todos os tipos e, por exemplo, envenenar uma vítima em potencial. Ainda assim, os amadores eram os mais interessantes. Havia um grupo de drogados extremamente violentos, em especial, que sempre o surpreendiam. Bastava ligar para um deles e dizer que em determinada casa ou determinada loja havia uma quantia muito grande em dinheiro guardada em um armário secreto ou enterrada sob o concreto. Apenas isso. Os assassinatos acabavam sempre ocorrendo, às vezes de forma quase involuntária, sem que ele precisasse gastar um só centavo. Quando havia dinheiro de fato, eles simplesmente o tomavam. Quando não havia, e não havia com quem reclamar, eles se enfureciam tanto que as mortes ficavam mais violentas. Trabalho realizado. E de graça. A perfeição dos detalhes.

 

O fim do dia... Já em casa, ele abriu a geladeira, apanhou uma lata de cerveja, e sorveu o líquido gelado com gosto. As correspondências foram largadas sobre a mesinha de centro, sem qualquer preocupação, já que não havia realmente com que se preocupar. Afinal, quem desconfiaria de um homem tão comum? Realmente ninguém. O jogo na TV estava bom, os times faziam uma bela partida, mas suas pálpebras pesavam, e ele precisava realmente descansar. O sofá acabaria com suas costas se ele pegasse no sono ali novamente.

Depois de um bom banho quente e depois de vestir seu pijama, ele observou seu próprio rosto no espelho. Havia um hematoma pequeno logo abaixo do olho esquerdo. A coisa ainda doía, e já fazia quase dois meses desde o assalto. O soco havia sido doloroso. Ele esperaria algo do tipo no mercado, graças ao maior fluxo de dinheiro, mas não na farmácia, e foi pego de surpresa. Três assaltantes comuns, mas incrivelmente fortes, armados com revólveres velhos, o renderam. Os funcionários ficaram apavoradas, e uma garota quase desmaiou, mas ele conseguiu manter a calma. Ao pedir calma para um dos criminosos, o sujeito o golpeou com a coronha do revólver. Aquilo não iria matá-lo, mas o feriu de verdade. O sujeito era enorme, extremamente musculoso. No chão, ele acalmou uma das funcionárias, até que ela foi capaz de abrir o cofre e entregar o dinheiro. Era uma ninharia, mas os olhos do sujeito se iluminaram. Por baixo da máscara, ele percebeu que era um homem albino, de olhos amarelados e cheio de sardas. Percebeu também a tatuagem, a marca de uma conhecida gangue de ladrões baratos. O sujeito não era ninguém. Medíocre, certamente, mas um medíocre cheio de músculos e armado até os dentes. O criminoso quase agradeceu, tamanha sua felicidade com o dinheiro, e se foi. Com ele, os outros dois. Aquilo já fazia dois meses. Depois de vencer a polícia e muitos criminosos talentosos, sem nunca ser sequer visto, ele foi apanhado por um ladrãozinho musculoso de beco. Ironia demais! Era a vida.

Mais desperto depois do banho, ele assistiu a um de seus filmes favoritos, aquele lançado alguns anos antes sobre o traficante latino que se tornou o líder da máfia de uma grande cidade americana. O sujeito era ótimo. Chamativo demais, para seus padrões, quase um suicida, mas, ainda assim, ótimo. Seu rosto botava medo, mesmo sendo apenas um homem comum, e a cicatriz... O que era aquilo? Discreta, quase imperceptível, mas ainda assim assustadora. Ele nunca seria tão assustador. E se as pessoas o vissem, se descobrissem que o assassino sem rosto não passava de um sujeito sem graça, comum e medíocre, certamente perderiam o respeito que tinham por ele. Ser uma sombra era a solução. Não, não era como Tony, e jamais seria. Ele era apenas “médio”, o que é muito pior que ser ruim. O ruim é algo, as pessoas se recordam do ruim, o médio não é nada, não pode ser nada, está destinado a ser esquecido.

Ele se sentia cansado, um tanto deprimido e incapaz de dormir, apesar do sono. Precisava de algo para se distrair e relaxar. Tranquilamente, desceu as escadas, até o porão. Ali embaixo, apenas a escuridão fazia companhia às pilhas de porcarias inúteis amontoadas. Ele destrancou outra porta, e voltou a descer. Aquela porta não parecia grande coisa, uma porta fina de alumínio, que conduzia a um aquecedor a gás. Mas havia outra escada, que descia em espiral, até uma porta de aço maciço. A segunda porta, essa sim, parecia assustadora e mostrava que algo ali não estava certo. Não era o tipo de porta que se via por aí, ainda mais no porão de uma casa tão comum. Quando mandou construir aquilo, anos antes, ele precisou fingir ser um desses malucos aficionados por teorias conspiratórias sobre o fim do mundo, o público-alvo daquele tipo de produto. Só assim para não despertar suspeitas. Os comentários que ele soltava de vez em quando, enquanto acompanhava a obra, faziam os funcionários bocejarem de tédio. Mas aquela coisa de concreto e aço enterrada sob a casa era muito mais útil do que qualquer um seria capaz de prever.

Era hora de relaxar. Com uma agulha, ele injetou o medicamento na bolsa de soro. Logo a droga começaria a fazer efeito. Agora era preciso certa paciência. Ele apanhou uma revista, acomodou-se sobre a poltrona macia, ligou a lâmpada tênue do abajur e começou a ler uma reportagem interessante sobre o fluxo das ações no mercado financeiro. Minutos depois, já sob efeito do medicamento, o homem afivelado sobre a maca de metal, no centro do quarto subterrâneo, começou a gemer na meia-escuridão do cômodo gigantesco, enquanto seu corpo destruído despertava. Estava na hora. Ele acendeu as lâmpadas fortes do teto, e o quarto foi tomado por uma luz branca extremamente ofuscante. Depois que seus olhos se deram conta do que estava ocorrendo, o homem preso sobre a maca começou a gritar. Não era apenas um grito, era um grunhido grotesco de dor e medo, que em certos momentos lembrava os uivos de um cão ferido ou os mugidos de um toro perfurado pela espada assassina. E aquela sessão do mais angustiante desespero durou vários e vários minutos, até o sujeito na maca perder completamente a voz. Foi tempo o suficiente para ele terminar a leitura do artigo, decidido a colocar um pouco de seu dinheiro naquelas aplicações que pareciam bastante rentáveis e quase tão ilegais quanto seu ramo de trabalho. Eram informações interessantes. A assinatura custara caro, mas a revista valia a pena. Os gritos do sujeito na maca fizeram um sorriso sincero brotar em seus lábios e se petrificar ali. Um sorriso, naquele rosto, era algo muito mais raro do que alguém imaginaria.

Quando os gritos finalmente cessaram, ele se ergueu da poltrona e caminhou até a maca. Sim, era o mesmo sujeito. Ele seria capaz de reconhecê-lo em qualquer lugar, mesmo sem o gorro idiota cobrindo seu rosto. Era o ladrão da farmácia. Deitado sobre a maca, o sujeito encarava o espelho no teto sem conseguir desviar os olhos, por mais que desejasse não enxergar seu próprio reflexo. Seu corpo não estava inteiro. Suas pernas e seus braços haviam desaparecido. Os braços foram arrancados na altura dos ombros, e mesmo um pouco acima, e as pernas na altura das coxas. Faixas poderosas prendiam o tronco e a cabeça à maca, de modo que o sujeito estava condenado a permanecer daquele jeito até que alguém o soltasse, o que não parecia muito provável.

Não foi difícil fazer os membros da gangue entregá-lo. Bastou uma pequena quantia em dinheiro e uma ligação ao líder do grupo. Um sujeito albino, de olhos avermelhados, com a tatuagem característica da gangue na mão direita e uma pantera escura tatuada no pescoço não seria difícil de identificar. Para que máscara, com uma tatuagem daquelas à mostra? Era ridículo. Os outros dois assaltantes estavam mortos. Aquele logo desejaria estar.

Quando finalmente o percebeu ao lado da maca, quase dez minutos depois, ainda mergulhado em um profundo estado de choque, o sujeito lhe lançou um olhar de súplicas. Ele detestava aquele olhar. Era o olhar de alguém que o via como uma esperança, quem sabe como um amigo, não como o homem que arrancou a porcaria dos seus membros. Ele queria ver medo nos olhos do homem.

―Não. Não estou aqui para ajudar! ―disse ele, prevendo um pedido de socorro.

O sujeito ainda não compreendia. Com muito esforço, lutando contra as ataduras que prendiam sua cabeça à maca, ele conseguiu lançar um olhar em volta.

―Isso não é um hospital. ―afirmou o ladrão, assustado. Aparentemente, não se lembrava de como havia chegado ali. E não havia realmente muito o que lembrar.

―Não. Você está em um quarto subterrâneo à prova de som, sob uma casa de classe média, em um bairro pacato na periferia da cidade. Ninguém sabe que você está aqui. Ninguém poderia desconfiar.

 

E ninguém se importa.

Depois de encarar os olhos de seu algoz por um longo tempo, tentando desvendar aquela expressão fria, o sujeito sobre a maca finalmente perguntou.

―Por quê?

―Ah, você não lembra de mim, lembra? ―perguntou o dono da casa. Parecia um sujeito absurdamente comum, mas por baixo daquela espessa camada de verniz, por baixo de seus trajes de professor de ciência de colegial, ou algo do tipo, e por trás daqueles óculos horríveis de CDF, era possível enxergar o sadismo e a frieza. Apesar do semblante sério, seus olhos pareciam sorrir com todo o horror.

―Não me importo. —respondeu o ladrão. Lágrimas escorriam em sua face. —Não mais. Você conseguiu o que queria? Então, apenas termine logo com isso!

―Matar você? ―perguntou o dono da casa, com frieza. Apontando para a bolsa de soro, ele continuou. ―A glicose vai manter você vivo por um longo tempo, nutrir seu corpo, enquanto seus músculos definham. O anticoagulante vai impedir que você sangre até morrer. Não se preocupe, você vai viver por um longo tempo. Nós temos muito tempo para passarmos juntos. O último já está aqui há quase um ano.

Os olhos do sujeito na maca se encheram de um pânico ainda maior.

―Último?

Pelo espelho do teto, ele os viu. Havia pelo menos mais oito macas ali, e eram apenas as que ele podia enxergar. Devia haver mais. Meia dúzia de homens de todas as idades e ao menos uma mulher, além do que parecia ser um adolescente de uns treze anos. Aquelas pessoas… Não, não eram pessoas. Eram sacos de ossos, com suas roupas sujas largadas sobre os corpos definhados. Não havia braços ou pernas naquele porão. Todos haviam sido horrivelmente mutilados. Um dos sujeitos, que vestia o que parecia ser um terno, embora não fosse possível ter certeza, devia estar ali há realmente muito tempo. Parecia um cadáver, de tão magro e flácido, quase uma múmia, mas seus olhos estavam abertos. O ladrão não conseguia acreditar. Era como um pesadelo do qual não podia acordar. Os gritos recomeçaram no quarto subterrâneo, e duraram mais daquela vez.

 

A primeira vez que teve uma ideia do tipo foi com uma pequena formiga. Depois vieram as aranhas. Ele gostava especialmente das mais agressivas, gostava de apanhá-las com cuidado, arrancar suas patas e seus ferrões e passar algumas horas observando seus muitos olhos apavorados. Quando já tinha uns doze anos de idade, foi a vez do cão. Era um vira-lata enorme, que gostava de atacá-lo quase todos os dias, quando ele voltava da escola. Era preciso correr, e seus finais de tarde se transformavam sempre em um verdadeiro inferno. O dono do cão, um sujeito bêbado e maldoso, até sorria com os ataques e se recusava a prender o animal, por mais que seus pais e os outros vizinhos reclamassem. O filho do sujeito era um valentão que gostava de bater em meninos menores na escola. Uma família de sociopatas. E houve o dia em que o cão o mordeu. Foi uma mordida violenta, feroz, que abriu sulcos profundos em sua pele e verteu muito sangue. Ele acabou no hospital. Seu pai ficou muito bravo, como sempre ficava, mas não fez nada para resolver a situação além de bater boca no cercado. Patético!

Depois de algumas semanas, em um fim de tarde comum, ele mesmo atraiu o cão até um bosque com uma trilha de farelos de biscoitos. O bicho era enorme e parecia sempre faminto. A armadilha consistia em uma corda grossa, com um desses laços de tourada na ponta. Ele havia aprendido a fazer aquele laço com uma das revistas de homem de seu pai, daquelas que tinham armas na capa e ficavam sobre a mesa de centro da sala, não das que tinham mulheres nuas e ficavam debaixo do colchão. A armadilha consistia em uma caixa de madeira com um pedaço de carne gorda dentro. Para apanhar o petisco, seria necessário passar o pescoço pela boca da caixa, onde o laço já estava preparado. Ele não precisou fazer qualquer esforço. O animal estúpido se capturou sozinho e acabou desmaiando, depois de tentar se soltar por quase meia hora. Quanto mais ele puxava a corda, mais ela apertava. Com o animal inconsciente, ele começou seu trabalho. O cão não durou muito. Sem as patas e os dentes, o bicho morreu em poucos minutos, mas o sofrimento e a confusão nos olhos do animal eram reconfortantes. Depois de encontrar o cão jogado no mato, o dono se mudou em menos de dois dias, e a rua se tornou um lugar mais pacato sem o cachorro feroz e aquela família rude. Eram pessoas perigosas. Seguiram-se bons tempos. E nunca mais ele fez qualquer coisa parecida com aquilo, por muitos anos. Não podia se dar ao luxo de ser descoberto, ele sabia.

Foi apenas muitos anos após iniciar o negócio de assassinatos que ele decidiu construir aquele quarto sob a casa, já com um hóspede em mente: o gerente do banco no qual ele tentou conseguir um empréstimo. Não, não foi a recusa. A prepotência e a arrogância do sujeito é que o impressionaram. Ele não precisava de fato do dinheiro, era apenas uma fachada para construir o mercado, mas a humilhação a qual foi submetido foi imperdoável. O salário anual daquele homem não correspondia nem ao que ele faturava em uma semana boa em seus negócios, e ainda assim ele foi humilhado. Humilhado como nunca fora em toda a sua vida. O quarto levou quase três meses para ficar pronto, e ele aguardou com paciência. O gerente passou quase dois anos sobre uma das macas, antes de morrer, sem razão aparente. Talvez alguma doença genética tenha minado sua resistência. O sujeito havia merecido cada segundo de horror. Merecia mais. Com o tempo, vieram os outros. Apesar de aquilo tudo parecer extremamente cruel, é importante dizer: ninguém ali era inocente. Todos haviam cometido o pecado de ofendê-lo, de uma forma ou de outra.

 

Um novo dia nasceu. A noite de sono foi reconfortante. Ele fez a barba, tomou seu banho, preparou os ovos, vestiu suas roupas de trabalho e separou a correspondência. Havia seis contratos novos. Quatro deles seriam terceirizados, pois tratava-se de execuções simples. Dois deles dariam um pouco mais de trabalho. Mas a sexta correspondência era realmente curiosa, diferente de todas as outras. Para começar, a quantia no envelope era ao menos cinco vezes maior do que o valor do contrato. Em segundo lugar, o homem na foto era muito bem conhecido na cidade, um dos maiores magnatas do país, certamente uma das pessoas mais ricas do mundo. Por fim, o envelope estava identificado com a logomarca de uma empresa e tinha a casa da vítima como endereço do remetente. Era a primeira vez em todos aqueles anos em que um envelope aparecia com uma identificação, por razões bastante óbvias. E o mais curioso: aparentemente, o velho rico estava contratando sua própria morte.

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